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05.07.2021   |   #Notícias #Saúde

A cultura do cancelamento e suas consequências

Naju Guimarães

Acadêmica de Psicologia da UniAmérica

Se você está inserido no mundo virtual e frequentemente utiliza as redes sociais, já viu casos de pessoas sendo "canceladas", especialmente se for uma figura pública. Mas, você sabe o que significa de fato “cancelar” alguém e o motivo desse "cancelamento”?.

A cultura do cancelamento é uma forma de exclusão de uma pessoa, um grupo ou marca em posição de poder e influência após terem atitudes consideradas problemáticas ou erradas.

Consequências do cancelamento

Como todas as atitudes geram consequências, essas que levam ao cancelamento não ficam de fora, afetando completamente a vida da pessoa. Algumas consequências possíveis são: perda de seguidores, dinheiro, patrocínios, moral e carinho dos fãs. As pessoas não permitem que elas sigam suas vidas sem a devida punição e algumas dessas condutas envolvem atitudes racistas, LGBTQIA+fobia, machismo, xenofobia, intolerância religiosa, entre outros assuntos.

Porém, recentemente essas represálias passaram de uma espécie de “puxão de orelha” para um “linchamento e massacre”. O cancelamento atinge a saúde psicológica do afetado e a Psicóloga e Coordenadora do Curso de Psicologia da UniAmérica Lissia Pinheiro fala sobre como é esse impacto psicológico, se pode se tornar gatilho para depressão e transtorno de pânico, ou até mesmo consumo elevado de álcool.

“Há um interesse generalizado das pessoas por fama, poder e prestígio; o status de ser celebridade no mundo atual parece conquistar muito fácil as pessoas por todos os aspectos, e a cultura do cancelamento veio como um freio a tudo isso, mas que pode ser tanto negativo como positivo, ao mesmo tempo que chama atenção, dá voz à indignação das pessoas em relação a atos e fatos criminosos e formas de preconceitos”, comenta a psicóloga.

Um caso recente e de exemplo é da cantora Karol Conká, participante do Big Brother Brasil 21 (BBB), um reality da Rede Globo, no qual foi eliminada com recorde de rejeição com 99,17% dos votos. Segundo a revista Istoé, mostrou que “os canceladores também podem ser cancelados”, a cantora era espelho para o feminismo e no combate ao racismo, teve atitudes dentro do reality que a tornou vilã da edição, sendo preconceituosa e tóxica com vários participantes, em específico Lucas Penteado, no qual pediu para sair do programa após não aguentar mais os “ataques” da cantora.

“Neste sentido, o cancelamento pode associar-se a sensação de ostracismo, isolamento, exclusão social, experiência de anonimato, invisibilidade, perda de posição ou prestígio, entre outros aspectos, trazendo como consequência tais como depressão, ansiedade, sentimento de solidão, fracasso, incapacidade de realização”, discute Lissia Pinheiro

Outro exemplo, é da blogueira fitness Gabriela Pugliesi que após fazer uma festa em seu apartamento durante o isolamento devido ao Covid-19 e zombar da doença, foi “cancelada”. Segundo a Forbes, a influencer perdeu dezenas de contratos publicitários, como HOPE, Baw, LBA, Body For Sure, Desinchá, Evolution Coffee, Rappi, Mais Pura e Liv Up, pronunciaram se desassociando da blogueira, não a vendo como rosto em seus futuros trabalhos.

Após sofrer ataques e ameaças de morte depois que o filho do seu ex-companheiro Whindersson Nunes faleceu em decorrência de um parto prematuro no início de junho de 2021, a cantora Luisa Sonza se afastou das redes sociais para cuidar de sua saúde mental. Segundo a revista IstoÉ, a cantora saiu do país juntamente com seu namorado Vitão, para evitar as ameaças que vem recebendo.

“A cultura do cancelamento pode fazer parte dos fatores de risco para a saúde mental. E neste sentido, pode se tornar gatilho para o agravamento de transtornos mentais, desde ansiedade, depressão, pânico com ou sem consumo de substâncias, entre outros aspectos. É importante que a pessoa tenha uma rede de apoio que possibilite o restabelecimento dessa situação, também um olhar que possibilite a ressignificação da experiência para que consiga compreender o que está vivenciando, se conscientizar e superar”, finaliza a psicóloga Lissia Pinheiro.

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