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Metodologias Ativas e a transformação da Educação Superior

Adriane Cristina Guerino

Doutora e Mestre em Biologia Celular e Molecular, Bacharel em Ciências Biológicas, Especialista em Metodologias Ativas, Gestão da Aprendizagem e Educação Híbrida. Coordenadora de Curso e docente do Centro Universitário UniAmérica Descomplica.

“Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.”

(ESOPO, 620-564 a.C.)

Na educação, o grande desafio deste século é a busca por metodologias inovadoras que possibilitem uma pedagogia capaz de ultrapassar os limites do puramente técnico e tradicional, para assim, formar um ser humano ético, histórico, crítico, reflexivo, transformador e humanizado.

Pedro Demo (2009) já afirmava que o ato de aprender deve ser um processo de reconstrução que permita o estabelecimento de diferentes tipos de relações entre fatos e objetos, que estimule e que contribua para a reconstrução do conhecimento e a produção de novos saberes, a partir de uma educação transformadora e significativa, que tenha a capacidade de romper com o conceito da pedagogia tradicional. Conhecimento e aprendizagem são fundamentais para o ser humano exercer a sua autonomia e sua cidadania, com argumentações e ética, para mudar a realidade e a própria vida.

Toda esta perspectiva transformadora vai exigir mudanças didáticas nos currículos, pois estes, na grande maioria estão sobrecarregados de conteúdos insuficientes para a vida profissional. As complexidades atuais existentes exigem o desenvolvimento de competências além do conhecimento específico, tais como: colaboração, conhecimento interdisciplinar, habilidade para inovação, trabalho em grupo, educação para o desenvolvimento sustentável, regional e globalizado.

É neste aspecto que o Ensino Superior pode contribuir significativamente para a transição dos paradigmas, promovendo ações que garantam a construção coletiva de uma nova forma de interagir e desenvolver o conhecimento, através da construção de um currículo mais flexível, pensado e que vivencie o coletivo.

Quando uma instituição promove a flexibilidade do currículo e da organização pedagógica, também confere ao professor maior autonomia, maior responsabilidade nas estratégias que vão escolher para o ensino, diferentes produções de cenários de aprendizagem, o que também requer uma formação continuada, que vai gerar sempre o envolvimento e atualização.

Seguindo essa direção em que a escolha de um currículo flexível esteja associada a formação continuada dos professores, o projeto pedagógico deve contemplar a diversidade de metodologias, estratégias de ensino e atividades de aprendizagem, visando o desenvolvimento e uma educação transformadora que, ao discutir assuntos relevantes para a vida em sociedade, transmita aos alunos conhecimentos que lhes permitam conhecer, criticar e transformar a realidade em que vivem e permita a sua formação integral como cidadãos solidários, críticos, autônomos, o que tornará realmente significativa a sua aprendizagem.

É neste cenário de mudanças curriculares que vem a necessidade de transformar a disciplinaridade para interdisciplinaridade, além da apresentação de novas estratégias de ensino-aprendizagem. É aí que entram as Metodologias Ativas.

Metodologia ativa de aprendizagem é um processo amplo e possui como principal característica a inserção do aluno como agente principal responsável pela sua aprendizagem, comprometendo-se com seu aprendizado, sendo o protagonista. A ideia é estimular uma maior responsabilidade do estudante pela construção do próprio saber em instituições de ensino. Assim, ele se envolve no processo de aprendizado de maneira ativa, superando a ideia de aulas expositivas e com pouca interação do tradicional processo de ensino.

Paulo Freire (2019) já afirmava que metodologia ativa é uma concepção educativa que vai estimular processos construtivos através da ação-reflexão-ação, onde o estudante deve ter uma postura ativa com relação ao seu aprendizado em situações práticas de experiências, através de desafios que lhe permitam pesquisar e chegar às soluções aplicáveis à realidade.

É possível dizer, então, que as Metodologias Ativas são um conjunto de atividades, ferramentas que podem ser utilizadas com a presença da intencionalidade educativa fazendo com que os estudantes deixem de ser agentes passivos e passem a ser membros ativos no processo de sua aprendizagem.

Embora muitos se confundam, a metodologia ativa não implica necessariamente no uso das tecnologias mais recentes e tão pouco pode ser empregada exclusivamente para o uso delas. Existem diferentes possibilidades capazes de promover nos alunos a autonomia. Portanto, cabe aos professores buscarem novos caminhos e metodologias, dentre os quais colocarão os estudantes como protagonistas nos processos de ensino.

O Centro Universitário UniAmérica Descomplica investiu na inovação e instituiu as Metodologias Ativas em todos os seus currículos buscando desenvolver as competências necessárias para a formação de seus acadêmicos, não só profissional, mas também para vida.

Várias são as estratégias, ferramentas de metodologias ativas que são utilizadas nas aulas da Instituição e abaixo seguem alguns exemplos e pequenos descritivos:

  • Aprendizagem Baseada em Projetos que faz com que os alunos construam seus saberes de forma colaborativa, por meio da solução de desafios, colocando a mão na massa;

  • Aprendizagem Baseada em Problemas que através da interdisciplinaridade promove a resolução de problemas reais. Para ambas, os professores podem utilizar vídeos, debates, estudo de casos, entre outras ferramentas;

  • Sala de Aula Invertida, também chamada de flipped classroom, é uma metodologia ativa amplamente conhecida, derivada do ensino híbrido. Seu diferencial reside no uso da tecnologia, especialmente a internet, pois mistura a experiência digital e de sala de aula, potencializando o aprendizado;

  • Aprendizagem entre pares contribui tanto na formação do pensamento crítico, quanto na capacidade dos alunos de respeitarem opiniões divergentes.

  • A Gamificação também é uma ótima ferramenta para aprendizagem. Pode-se entender como a utilização de elementos como jogos e desafios em situações de sala de aula. A metodologia é principalmente utilizada para gerar maior engajamento, motivar a ação, promover ou resolver problemas de modo criativo.

Várias outras estratégias de Metodologias Ativas poderiam ser citadas, mas vale ressaltar que qualquer instituição que queira inovar em seu currículo, adotando essas mudanças, deve construir, discutir e encontrar as melhores ferramentas em conjunto com seus professores. Desta forma o professor torna-se mais reflexivo, dialógico, multiprofissional e competente para atuar nos processos de gestão e planejamento educacional em cenários de aprendizagens significativas e na intervenção em problemas demandados pelos ambientes educacionais.

E é nesse cenário que se possibilita, também, a autonomia dos estudantes e uma nova cultura alicerçada na atualização e em um currículo flexível, de modo que ambos possam refletir sobre sua práxis e contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade.

Referências:

DE SOUZA SCHLICHTING, T.; HEINZLE, M. Metodologias ativas de aprendizagem na educação superior: Aspectos históricos, princípios e propostas de implementação. Revista e-Curriculum, v. 18, n. 1, p. 10-39, 2020.

DEMO, P. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. 6. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 49 ed. São Paulo: Paz & Terra, 2019.

MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

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